23 junho 2015

Amor À Primeira Vista

Vi-te pela primeira vez.
Não acreditas? Eu sei que já nos tínhamos encontrado. Mas o teu cabelo ondulado não tinha o mesmo jeito nem brilho. Não se punha de lado enquanto te movias. Quando o apanhavas não ficava tão atabalhoadamente perfeito.
Eu não era tão pouco eu enquanto te via. Era o que os olhos queriam que fosse. Um espectador de uma obra prima de todas as artes.
Vi os teus lábios de perto e estavam melhor desenhados que antes. Mexiam mais devagar que outras vezes. Pude decorar cada movimento minuciosamente. Sei perfeitamente o gesto que fazes quando pronuncias as palavras e expressões mais banais como "pois" ou "acho que não" e a dificuldade que tens a pronunciar "mas isso" ou "os outros" quando falas depressa.
Na tua pele haviam mais desenhos e tonalidades. Estavas mais iluminada e havia mais brilho em cada milímetro de ti. O expoente disso eram os teus olhos, especialmente quando ficavam vagos e presos na admiração do que imaginavas. Parece um lugar fresco e belo. Como uma onda no verão ao final da tarde onde cheira a mar e a flores.
Ouvi-te pela primeira vez. 
A tua voz ficou mais complexa, mais limpa, mais rouca, mais grave e mais quente, mas mais leve e mais clara.
Lembras-te das tuas gargalhadas? A memória delas é neste momento um botão que faz de mim uma máquina de resposta única e automática: fecho os olhos e desenho no meu rosto o sorriso mais tolo que consigo. Também houve uma incrível precisão desconcertante das tuas gargalhadas. Tentei continuar as minhas, para que não se percebesse o meu estado de alienação. A cada piada vinha o meu sentido de humor munido da minha própria gargalhada e o teu fazia o mesmo. Aí os meus sentidos já não eram de humor e a gargalhada já era uma capa para a maior felicidade do mundo e para os olhos sorridentes e lacrimejantes que eu ganhava. Uma das vezes limpei a cara sorrateiramente e sorri sem capa para o lado.
Toquei-te pela primeira vez.
Estava nervoso e o meu jeito era mais desajeitado que o normal. Não que normalmente seja desajeitado. Porém acredito que agora seja normal que me desajeite contigo. É mais difícil ter jeito na mão quando o braço treme em arrepio gelado. Quando os dentes rangem e se tem que concentrar uma enormidade de músculos corporais para manter tudo normal nos meus gestos.
Olhaste-me pela primeira vez.
Senti os teus olhos encontrarem os meus como nunca tinha sentido. Demorei-me a responder-te várias vezes enquanto isso acontecia. Não que se pudesse notar essa demora, mas o tempo suficiente para gravar aquele aperto que me trazia o sentir que os teus olhos me perfuravam e me liam a alma.
Quero agora continuar a explorar o efeito que causas aos meus sentidos nesta primeira vez e nas vezes que sejam.

12 junho 2015

Leonardo Da Vinci vive em Hollywood

Alex Garland e Christopher Nolan devem ser aprendizes de Leonardo como este foi aprendiz de Verrocchio. Na ciência buscam a verdade para transportar para a arte e como Leonardo inventam teorias à frente do seu tempo e para pessoas do seu tempo. Pois, como Leonardo, Christopher e Alex são pessoas do seu tempo e a arte que fazem é para mim e para vocês. Porque Interstellar e Ex Machina me transportaram para uma imensidão de questões.
E nenhum deles é o meu filme preferido tal como Da Vinci nunca me entrou nos favoritos.
Uma vénia!